O PODER DOS BEBÊS
Como a chegada dos filhos transforma o cérebro de pais e
mães.
"Há muito já
se sabe que pais e mães influenciam fortemente seus filhos. Novas pesquisas
mostram, porém, que essa história tem outro lado: a conexão afetiva com os
pequenos afeta o funcionamento neuroquímico das figuras parentais, o que
deflagra alterações na maneira de pensar e agir. O nascimento de um bebê coloca
os pais diante de novas responsabilidades e emoções - e essas experiências
reforçam a ligação entre cada um dos pais e o recém-nascido. O fenômeno, porém,
não depende dos genes, já que também se dá em caso de adoção. Nem a gravidez o
explica completamente. O fato é que os desafios de cuidar dos filhos fazem com
que áreas do cérebro de homens e mulheres sejam transformadas com o objetivo de
facilitar a complexa tarefa de ser pai ou mãe."
Na cabeça da mamãe
“Embora as
mulheres reclamem da perda de agilidade mental durante a gravidez, estudos
sugerem que a maternidade está associada ao aumento de massa cinzenta em áreas
envolvidas com o cuidado dos filhos, tornando-as mais atentas e corajosas.”
Com a gravidez surgem
diversos problemas, como noites mal dormidas, dores na coluna e sensação de “cabeça
vazia”. Porém, o “cérebro maternal” surge gradualmente, tendo aspectos
cognitivos aperfeiçoados, bem como a resistência ao estresse e a melhora da
memória. O crescimento do cérebro se dá
nas seguintes áreas: região medial do cérebro, lobos parietais e córtex pré-frontal,
áreas envolvidas no cuidado com bebês. As mães que tiveram maior aumento dessas
estruturas mostraram atitude mais afetuosa em relação aos seus bebês.
Além da mudança física do
cérebro, existem as mudanças hormonais. Os principais hormônios são a
oxitocina, que estimula contrações do útero e a liberação do leite, e a
prolactina, que estimula a produção de leite. Também há uma espécie de
neutralização de alguns hormônios relacionados a agressividade e desejo sexual.
Durante a amamentação, o movimento de sucção do bebê libera opiáceos, hormônios
responsáveis por causar uma sensação de bem estar na mãe. Os hormônios
maternais, em conjunto, tornam o cérebro mais resistente, criando uma espécie
de blindagem neural que protege as mães de danos que possam comprometer sua
capacidade de cuidar dos filhos.
(clique sobre a imagem para ver detalhes)
O
fluxo contínuo de hormônios faz com que as células cerebrais produzam protuberâncias,
chamadas de espinhos dendríticos, que aumentam a superfície do neurônio,
agilizando o processamento de informação.
Com tantas mudanças, não
é surpresa que mulheres grávidas se queixem de dores de cabeça. Como efeito
colateral, podem ocorrer falhas de memória. A facilidade cognitiva relacionada
ao aprendizado não ligado ao cuidado de bebês é rebaixado entre as mães. A
ciência pode explicar o cérebro, mas há mistérios que vão além da biologia e
são influenciados pelo afeto e por questões psíquicas.
Mais neurônios para o papai
“Cientistas
começam a traças aspectos neurocientíficos da ligação masculina com os filhos:
renovação neural pode conferir ao pai maior agilidade mental e favorecer a
memória a longo prazo – mas é preciso estar perto para manter o elo.”
Já nos primeiros dias
após o nascimento da criança ocorrem mudanças tanto no cérebro do pai como no
do bebê. Quando está por perto, o homem ganha uma agudeza cognitiva graças ao
cuidado que dedica a sua cria.
Superficialmente, o elo
da paternidade não se parece com a conexão entre mãe e filho. A ligação da
mulher se fortalece bioquimicamente através de seus hormônios durante a
gravidez, além de o período de lactação favorecer os laços afetivos. O que o pai
pode favorecer é menos óbvio. Sua presença é essencial durante a concepção, mas
depois deixa de ser decisiva para a sobrevivência da criança. Mas a ligação com
a figura paterna tem consequências afetivas bastante relevantes ao longo do
tempo. Estatísticas revelam que crianças deixadas aos cuidados exclusivos das
mães costumam ter maior probabilidade de sofrer com transtornos emocionais,
agressividade e compulsões.
Em 2003, o psiquiatra
Erich Seifritz, da Univerdade de Basileia, na suíça, usou imagens de
ressonância magnética funcional para mostrar que certas áreas no cérebro dos
pais são ativadas quando ouvem o choro de um bebê, assim como as mães, mas
diferente dos homens que nunca foram pais.
O cérebro, afinal, não é
estatístico. Os neurônios estão frequentemente recombinando-se em resposta a
novas experiências e mudanças no ambiente. Células adicionais podem surgir, por
um processo chamado neurogênese. Esses mecanismos ainda não são completamente
entendidos.
Pesquisas com ratos
revelam que é essencial que o pai se mantenha perto dos filhotes para que áreas
do cérebro relacionadas ao cuidado cresçam e se desenvolvam. Ou seja, não basta
que ele procrie para dar vida a novos neurônios, é preciso acompanhar. Uma
separação de poucas semanas é suficiente para que camundongos adultos esqueçam
tudo sobre seus filhotes, porém o elo pai e filho dos humanos resiste à
distância. Seus novos neurônios criam seus próprios circuitos, ajudando a
formar memórias de longo prazo e favorecendo uma ligação mais duradoura.
Fonte: Revista Mente e Cérebro, editora Duetto, edição de Dezembro de 2011. (Ano XIX Nº 227)
Reportagem: O poder dos bebês, por Craig Howard Kinsley e Elizabeth Meyer.
Fonte: Revista Mente e Cérebro, editora Duetto, edição de Dezembro de 2011. (Ano XIX Nº 227)
Reportagem: O poder dos bebês, por Craig Howard Kinsley e Elizabeth Meyer.